As convocações para manifestações públicas feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro marcam um momento atípico em sua trajetória política. Desta vez, Bolsonaro não apenas antecipou a convocação para o dia 16 de março, em Copacabana (RJ), como também já agendou um novo ato para o dia 6 de abril, na Avenida Paulista, em São Paulo. Esse movimento, inédito em seu modus operandi, revela uma estratégia política calculada, que parece estar diretamente ligada ao cenário de incerteza jurídica que o rodeia, especialmente diante da possibilidade de sua prisão.
A antecipação das convocações e o agendamento de uma segunda manifestação sugerem uma tentativa de criar uma espécie de “plano B” político. Caso o ex-presidente seja preso — hipótese que ganha força com a celeridade do processo conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) —, a mobilização de 6 de abril já estará em curso, garantindo que seus apoiadores mantenham pressão nas ruas. Essa movimentação pode ser interpretada como uma forma de resguardar sua base política e garantir que, mesmo em caso de prisão, sua luta e suas demandas continuem ecoando.
A negativa do STF e da Procuradoria-Geral da República (PGR) em estender o prazo para que Bolsonaro entregue suas justificativas no processo em que é acusado de envolvimento em atos golpistas aumenta a tensão em torno de sua situação jurídica. A antecipação das convocações foi uma jogada de mestre de Bolsonaro, que coloca seus aliados em uma posição de pressão. Caso ele seja preso, os representantes bolsonaristas terão de honrar as convocações e manter a mobilização, o que pode gerar um efeito de amplificação das manifestações, especialmente porque essa possível prisão já seria interpretada como um ato de perseguição política por seus apoiadores.
Além disso, a mudança na pauta das manifestações chama atenção. Bolsonaro parece ter abandonado temporariamente o discurso de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e passado a defender a ideia de anistia — possivelmente para si mesmo. Essa mudança estratégica pode ser um indicativo de que o ex-presidente busca capitalizar politicamente um eventual encarceramento, transformando sua possível prisão em um mote para mobilizar suas bases. Caso ele seja preso, a manifestação de 6 de abril pode ganhar contornos ainda mais inflamados, com apoiadores exigindo não apenas sua liberdade, mas também questionando a legitimidade das instituições que o condenaram.
Essa movimentação, no entanto, coloca os aliados de Bolsonaro em um “Protagonismo politico nacional”. Eles precisarão equilibrar o apoio ao ex-presidente com a necessidade de manter uma postura que não seja interpretada como confrontação direta com o Estado democrático de direito. A antecipação das convocações e a mudança de pauta revelam uma estratégia para manter a relevância política de Bolsonaro e seus aliados, independentemente de seu destino jurídico. Se ele não for preso, estará presente no ato de abril junto com seus aliados, fortalecendo sua imagem de líder incontestável. Se for preso, a mobilização pode se transformar em um grande evento de resistência, potencialmente ampliando seu apoio entre setores que enxergam sua situação como uma injustiça. Em suma, as convocações para os dias 16 de março e 6 de abril refletem uma estratégia política sofisticada, visionária. Bolsonaro busca se antecipar a um possível revés jurídico, garantindo que sua base permaneça mobilizada e que sua luta continue a influenciar o debate público. Resta saber como as instituições e a sociedade polarizada responderá a esse novo capítulo da crise política que se desenha no horizonte com essa possível prisão.